Até quando?* Suelen Aires Gonçalves
Socióloga e professora universitáriastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Como cientista e cidadã, apresento minhas produções intelectuais como forma de protesto contra um sistema perverso que ceifa vidas cotidianamente. Escrevo para diminuir a dor e a indignação. O texto de hoje versa sobre violação de direitos e vidas ceifadas nos últimos dias em nosso país e no Estado. Vocês estão lembrados do caso João Alberto Silveira Freitas, morto por sufocamento no dia 19 de novembro no Supermercado Carrefour em Porto Alegre? Dias após, mais precisamente em 4 de dezembro, as primas Emily e Rebeca foram atingidas por "balas achadas", em uma ação da polícia do Estado do Rio de Janeiro? No dia 8 de dezembro, dia de mãe Oxum, Jane Beatriz Silva Nunes, foi assassinada brutalmente em sua casa, na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre pela Brigada Militar (BM). Estamos diante de um Estado genocida ou não?
ESTRUTURA GENOCIDA
Infelizmente, os casos acima citados não são isolados, como alguns setores tentam argumentar. São situações que apresentam, com muita nitidez, a estrutura racista e genocida de um Estado que mata a população negra como forma de ação política, como diria o filósofo Achille Mbembe com o conceito de necropolítica. Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no 14º Anuário publicado neste ano, em 2019, tivemos oito em cada 10 pessoas vítimas fatais de intervenção policial, ou seja, do Estado, eram negras(os). Em nosso Estado, apenas no primeiro semestre de 2020, foram 90 mortes decorrentes da intervenção policial.
CONTRA A VIOLÊNCIA
Em um estado democrático, como em tese estamos inseridos, é imprescindível que as circunstâncias das mortes de João Alberto Silveira Freitas, Emily e Rebeca e Jane sejam, rigorosamente, apuradas pelas autoridades competentes. O Movimento Negro Unificado (MNU), em documento público, exige a exoneração do secretário de Segurança do Estado do Rio Grande do Sul e do comandante-geral da Brigada Militar, pois tais autoridades têm responsabilidade pelas ações de seus subordinados. Eu, enquanto cientista e cidadã, assino com o MNU tal solicitação. Contra a violência policial nas nossas cidades e periferias, seguiremos! Justiça por Jane e pelas vidas negras ceifadas pelo Estado Racista Brasileiro!
*Este artigo foi originalmente publicado na pagina 8 da edição de quinta-feira, 10 de dezembro de 2020.
Pátria educadora Silvana Maldaner
Editora de revistastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
A educação é essencial para um país? Podemos medir pelo número de investimentos e também pelos salários pagos aos professores. Outra forma é o índice per capita comparado ao PIB.
Se analisarmos sob esta ótica, o Brasil investe mais que países desenvolvidos. O Japão, por exemplo, investe 3,3% do PIB em todos os níveis de ensino e conquistou a terceira maior média mundial no Pisa.
O Brasil, com 5,7% do PIB dedicados à educação, ocupa uma desonrosa 63ª colocação, na soma das médias obtidas em ciências, leitura e matemática por estudantes de 15 anos. A Coreia do Sul, que ficou 54 posições acima dos brasileiros no Pisa, coloca 4,6% do PIB em educação. Foram 70 os países avaliados, na prova da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Então qual é o problema de nossa educação? É a eficiência? São professores realmente engajados no aprendizado? É o investimento em pesquisas fundamentadas? Quais as discussões pertinentes e as pautas trabalhadas? Quanto se investe em ciência e tecnologia? Tenho visto algumas dissertações de mestrado e de doutorado, financiadas pelo governo federal, que são absurdamente desonrosas, para não dizer um roubo aos cofres públicos. Sem contar professores que fazem doutorado no Exterior e retornam para se aposentar.
Fico imaginando nossos futuros médicos, que para passar num vestibular precisam gabaritar todas as provas para passar numa federal, ou então desembolsar em média R$ 8 mil mensais para as faculdades privadas. Quem pode pagar em média R$ 600 mil para ter um diploma?
Além dos seis anos do curso de Medicina, são necessárias provas de residência para cursar especialidades médicas. Algumas, como cirurgia cardíaca, levam 12 anos de estudos diuturnos. Infectologistas pediátricos levam em média 10 anos para ter este título.
Mas hoje não precisamos de estudo, uma vida de abdicação pessoal, nem tampouco tempo e dinheiro investido. Temos os especialistas de Facebook, que acompanham a mídia sensacionalista e sabem muito mais do que aqueles que são colocados à prova todos os dias nos consultórios, pronto-socorros e UTIs.
Não precisamos de sociedades brasileiras com estudos e evoluções das doenças para conduzir decretos. O que importa são os decretos e as leis estabelecidas pelos políticos, afinal, eles ganham muito bem para mandar em todo mundo.
Daqui para a frente teremos cirurgiões que aprenderam a operar por lives, aulas práticas suspensas, e alunos desmotivados, justamente num momento onde todas as pesquisas médicas deveriam ser intensificadas.
Os pais, alunos e médicos que estão lutando por aulas presenciais são considerados irresponsáveis.
Em tempos de novas pandemias, a educação tem feito muita falta.